Um dia para discutir a figura do palhaço
O Centro de Memória do Circo exibe sessão gratuita seguida a debate sobre o papel do palhaço na história com as autoras do livro “Palhaços do Nosso Povo”, Maria Malú e Monique Franco. O filme a ser exibido é “I Clown”, de Federico Fellini.
Fellini é um garoto que vai ao circo pela primeira vez. Enquanto os palhaços fazem suas brincadeiras Fellini aproveita para criticar os próprios críticos de cinema, através do personagem de um jornalista que fica perguntando: “o que isso significa”?
O Que: Exibição "I Clown", de Federico Fellini seguido de debate
Quando: Sáb 31/07
às 14:30
Confira todas as datas Sáb 31/07 às 14:30
Quanto: Catraca Livre
Onde: Centro de Memória do Circo
Endereço: Av. São João, 473 (Próximo das estações República, Anhangabaú e São Bento do metrô) - Centro. Telefone: (11) 3334-0001.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Clown
A palavra clown apareceu durante o século XVI. Este vocábulo remete-nos a colonuns e clod, ao rústico, ao torpe. O campônio que é visto pelas pessoas da cidade como um indivíduo desajeitado e engraçado...
Para Fellini (1986), o palhaço é mais de feira e praça, o clown de circo e palco. Tessari (1997) escreve que, tanto na língua comum italiana quanto na linguagem especializada do espetáculo, hoje não existe nenhuma diferença entre a palavra palhaço e a palavra clown, pois as duas palavras se confluem em essências cômicas.
FELLINI, Federico. Fellini por Fellini. 3. ed. Trad. José Antonio Pinheiro Machado, Paulo Hecker Filho e Zilá Bernd. Porto Alegre: L&PM, 1986.
TESSARI, Roberto. Instituto di storia dell’Arte da universitá di Pisa. Carta à Ana Elvira Wuo. Ripafratta-Italia, 20 giug. 1997.
Fonte:http://www.clown.comico.nom.br/clown.htm
domingo, 25 de julho de 2010
cores, sacolas e flores
Bolsas e sacolas
Sacolas e flores
Amarelas e vermelhas
vermelhas da cor do
meu nariz
Me vejo do avesso
Sinto o flutuar das cores
Coisas que transportam
coisas
e
Corpos que transportam
Almas.
Alexandre Marchesini
sexta-feira, 23 de julho de 2010
quinta-feira, 22 de julho de 2010
terça-feira, 20 de julho de 2010
Caminhos que flutuam
na constante;
O impulso me domina
para o novo inevitável,
A trilha é de giz
onde as vezes eu apago
e tento fazer a minha própria direção
seja para o 'certo', ou para o 'errado'
meu caminho é conduzido....
necessidade de ser quem eu sou.
Existir nessa bola gigante
Transportado por enormes
bolas de sabão
Alexandre Marchesini
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Trilhos e Ondas
A mulher sentada espera alguém chegar e sente o frio passar por dentro da sua pele
A garota anda de um lado para o outro procurando alguma coisa para preencher sua solidão.
O chão do lugar eram pequenos quadrados que flutuavam numa imensidão de água.
Um homem tenta voar sua vida inteira, quando anoitece ele tira da sua mala um pano branco talvez fosse
esse o unico jeito de sentir-se vivo.
Um jogo de amarelinha surge no meio do nada, em que a ida não tinha volta.
O senhor 3 perde seu ingresso, um outro homem é surpreendido e levam seus ingressos também, antes de perder seu chão esses ingressos voltam para sua mão.
Num banco alguém tenta impedir o embarque de algumas pessoas
O navio partiu e o trem chegou!
Quatrocentos e vinte passos do mêtro até aqui onde estou
Gostei da sua blusa!
Pessoas estão desviando umas das outras.
Duas pessoas se levantam e vão embora
O rapaz diz que o show acabou
Algumas pessoas arrumam suas coisas e caminham para suas casas
A luz da lua ilumina todo o cenário
Ouve-se a música da banda Beirut
No final uma pessoa se enforca.Alexandre Marchesini
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Navio - Corpo - Engrenagens
Proa - A frente do navio. Comparar com vante. Também conhecido em senso de direção como sendo o rumo momentâneo em que se encontra o navio, geralmente em graus, em relação ao norte.
Popa - a traseira do navio. Comparar com ré.
Estibordo - O lado do navio que está à direita quando o observador olha para a proa.
Boreste - Termo utilizado no Brasil em substituição de Estibordo.
Bombordo - O lado do navio que está à esquerda quando olhando para proa. (Um mnemonico para distinguir é que esquerda possui o mesmo número de letras de bombordo.)
Âncora - Instrumento metálico pesado utlizado para fixar temporáriamente a embarcação em local desejado.
Ponte de comando - o centro de comando da navegação.
Passadiço - Termo usado no Brasil em vez de Ponte de Comando.
Superstrutura - Qualquer estrutura acima do convés da embarcação, contendo, geralmente, a ponte e alojamentos.
Cabine - Um quarto fechado num deque.
Deques - Os "pisos" e diferentes pavimentos do navio. Em alguns navios novos são chamados de "ponte(s)".
Casco - A estrutura de flutuação que suporta o navio.
Mastro - um poste concebido para a suspensão das velas
Popa - a traseira do navio. Comparar com ré.
Estibordo - O lado do navio que está à direita quando o observador olha para a proa.
Boreste - Termo utilizado no Brasil em substituição de Estibordo.
Bombordo - O lado do navio que está à esquerda quando olhando para proa. (Um mnemonico para distinguir é que esquerda possui o mesmo número de letras de bombordo.)
Âncora - Instrumento metálico pesado utlizado para fixar temporáriamente a embarcação em local desejado.
Ponte de comando - o centro de comando da navegação.
Passadiço - Termo usado no Brasil em vez de Ponte de Comando.
Superstrutura - Qualquer estrutura acima do convés da embarcação, contendo, geralmente, a ponte e alojamentos.
Cabine - Um quarto fechado num deque.
Deques - Os "pisos" e diferentes pavimentos do navio. Em alguns navios novos são chamados de "ponte(s)".
Casco - A estrutura de flutuação que suporta o navio.
Mastro - um poste concebido para a suspensão das velas
domingo, 11 de julho de 2010
O silêncio - Jacques Lecoq
Como um silêncio denso e prolongado,
Eu me calo,
Tu não tomas a palavra
Porque foi um longo silêncio...
Tudo não foi mais que silêncio.
O silêncio anterior à batalha, essa vigília de armas, feita da espera do amanhecer, e esse silêncio que sucede os combates, que se instaura no lugar dos ruídos.
Sim, ele permanece no silêncio, o herói.
Mas também a criança, quando não sabe o que responder, oferece seu silêncio como resposta.
Todos trabalhavam em silêncio, concentrados em suas tarefas.
Os primeiros passos ressoam claros sobre o betume das primeiras horas da manhã, como que isolados; destacam-se sobre o silêncio da noite que se esfuma.
A vida sustada, dir-se-ia; como que suspensa na respiração contida.
O silêncio dá vida a olhares nunca vistos, a gestos ainda não ousados.
Tudo é eminente; para que um braço que se ergue tenha um sentido, nós o esperamos no silêncio da expectativa, que dá ao ato que se segue todo seu valor; assim, a palavra é esperada como necessária ao encontro.
O silêncio afasta também consigo adeuses que nunca se deram.
Em uma solidão que se fecha e encerra, em um silêncio que se acaba...
É a partir do silêncio que nasce a qualidade do gesto e da palavra. É nesse crisol que se preparam os impulsos e as pulsões que organizam, no espaço interior, os ritmos em urgência de emergência: ele vai falar? agir? Ele ergueu-se, caminhou, voltou-se, olhou-me por apenas um instante, um instante suficiente para a compreensão, e continuou seu caminho.
O silêncio é investido de qualidades muito diferentes, conforme preceda ou suceda uma ação, um ato, uma palavra. A urgência de uma ação que nos mobiliza inteiramente requer um silêncio propício a essa ação. A ação o exige. Um alpinista que escala uma parede não sente necessidade de falar. Uma pequena ação rotineira que não requer grande concentração, mas uma espécie de automatismo, pode propor a palavra a fim de facilitar o próprio ato, e para que ele não seja realizado com enfado. As velhas falam ao tricotarem, e raramente sobre o que estão fazendo.
O silêncio inicial assemelha-se à concentração que deve favorecer a ação subseqüente. O estádio emudece: o atleta imóvel, concentrado sobre si mesmo, vai tentar o recorde mundial de salto em altura, cercado por um silêncio espantoso. Silêncio, ação, reação. As ovações explodem, o vencedor ultrapassou a barra da vitória.
O silêncio depois da ação conduz mais à reflexão, ao recolhimento em si mesmo. Após ler no mural o resultado dos exames, o estudante reprovado muitas vezes permanece em um silêncio doloroso, próximo das lágrimas. Ele, que tinha feito tudo para ser aprovado, está prostrado. Isola-se e não quer ver ninguém.
O silêncio anima o olhar, por si mesmo. Sempre há nele mais um retorno para si do que uma abertura para o exterior.
O tímido freqüentemente é silencioso: ele olha, mas como se estivesse protegido por si mesmo.
O silêncio sempre se oculta na profundidade, lá onde deve ser procurado por quem quiser encontrá-lo.
Não há conflito entre a palavra e o silêncio; o silêncio dá à palavra sua profundidade. Um discurso que ignorasse a qualidade do silêncio não passaria de verborragia. Gostaríamos de dizer: "Chega! Cala-te! Tua fala não contém o silêncio necessário para que alcance seu verdadeiro valor." A emergência do não-dito está lá...
In "Le Théâtre du geste", org. de Jacques Lecoq, Ed. Bordas, Paris, 1987. Tradução de Roberto Mallet.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Sobre o Clown - Federico Fellini
O clown é como a sombra
Tenho sob os olhos, entre outras muitas, uma definição do clown feita por meu conterrâneo Alfredo Panzini, no Diccionario Moderno:
"CLOWN - palavra inglesa (pronuncia-se cláun) que quer dizer rústico, rude, torpe, indicando depois quem com artificiosa torpeza faz o público rir. É o nosso palhaço."
Mas também aqui existe a mesma miserável diferença do termo estrangeiro que enobrece a coisa. O palhaço é mais de feira e praça, o clown, de circo e palco. Um bom acrobata é um clown, isto é, quase um artista, e julgará imprópria e ofensiva a expressão palhaço. Mas clown designa também o palhaço. O próprio Carducci, defensor do vernáculo, nas prosas polêmicas de Confessioni e Bataglie, capítulo Ça ira, não desdenha a palavra.
Neste tempos de nacionalismo, que direi eu? Bem, o clown encarna os traços da criatura fantástica, que exprime o lado irracional do homem, a parte do instinto, o rebelde a contestar a ordem superior que há em cada um de nós.
É uma caricatura do homem como animal e criança, como enganado e enganador. É um espelho em que o homem se reflete de maneira grotesca, deformada, e vê a sua imagem torpe. É a sombra.
O clown sempre existirá. Pois está fora de cogitação indagar se a sombra morreu, se a sombra morre.
Para que ela morra, o sol tem de estar a pique sobre a cabeça. A sombra desaparece e o homem, inteiramente iluminado, perde seus lados caricaturescos, grotescos, disformes. Diante duma criatura tão realizada, o clown, entendido no aspeto disforme, perderia a razão de existir. O clown, é evidente, não teria sumido, apenas seria assimilado. Noutras palavras, o irracional, o infantil, o instintivo já não seriam vistos com o olhar deformador que os torna informes.
Por acaso São Francisco não definiu a si mesmo como jogral de Deus?
Lao Tsé afirmava: "Quando produzas em pensamento, te ri dele."
O branco e o augusto
Quando digo o clown, penso no augusto. Com efeito, as duas figuras são o clown branco e o augusto. O primeiro é a elegância, a graça, a harmonia, a inteligência, a lucidez, que se propõem de forma moralista, como as situações ideais, únicas, as divindades indiscutíveis. Eis que em seguida surge o aspeto negativo da questão. Pois dessa forma o clown branco se converte em Mãe, Pai, Professor, Artista, o Belo, em suma, no que se deve fazer.
Então o augusto, que devia sucumbir ao encanto dessas perfeições, se não fossem ostentadas com tanto rigor, se rebela. Vê as lantejoulas cintilantes, mas a vaidade com que são apresentadas as torna inalcançáveis. O augusto, que é a criança que faz sujeira em cima, se revolta ante tanta perfeição, se embebeda, rola no chão e na alma, numa rebeldia perpétua.
Essa é a luta entre o orgulhoso culto da razão, onde o estético é proposto de forma despótica, e o instinto, a liberdade do instinto.
O clown branco e o augusto são a professora e o menino, a mãe e o filho arteiro, e até se podia dizer que o anjo com a espada flamejante e o pecador. São, em suma, duas atitudes psicológicas do homem, o impulso para cima e o impulso para baixo, divididos, separados.
O filme [I Clowns] termina com as duas figuras se encontrando e desaparecendo juntas. Por que comove essa situação? Porque as duas figuras encarnam um mito que está dentro de cada um de nós – a reconciliação dos opostos, a unidade do ser.
A dose de dor que existe na guerra contínua entre o clown branco e o augusto não se deve às músicas nem a nada parecido, mas ao fato de presenciarmos a algo que se liga à nossa própria incapacidade de conciliar as duas figuras. Com efeito, quanto mais procures obrigar o augusto a tocar violino, mais dará soprinhos com o trombone. O clown branco ainda pretenderá que o augusto seja elegante. Mas quanto mais autoritária seja essa intenção, mais o outro se mostrará mal e desajeitado.
É o apólogo de uma educação que procura pôr a vida em termos ideais e abstratos. Mas Lao Tsé dizia com acerto: Quando produzas um pensamento (= clown branco), te ri dele (=clown augusto).
Outra versão do par
Neste ponto, também podia citar a famosa antítese popular chinesa entre ying e yang, o frio e o sol, a fêmea e o macho, todos os possíveis contrastes. Podia-se falar de Hegel e da dialética, acrescentar que os augustos são, mais justamente, uma imagem subproletária do pátio dos milagres, com desnutridos, disformes, marginais, capazes talvez de revoltas, não de revoluções. É provável que o povo sempre os tenha tratado com confiança por causa de sua condição miserável, sentindo-se familiar ao abismo.
Os Fratellini foram os que introduziram um terceiro personagem, o "contre-pitre", parecido ao augusto, mas que se aliava ao patrão. Era o vigarista de rua, o espião, alcagüete da polícia, o liberado a se mover nas duas zonas, a meio caminho da autoridade e do delito.
Com exceção de François Fratellini, que fazia um aéreo clown branco, cheio de graça e amabilidade, incapaz de usar o tom acre da gozação para um mais fraco, todos os clowns brancos eram homens muito duros. Diz-se que Antonet, um afamado clown branco, fora de cena nunca dirigiu a palavra a Beby, que era o seu augusto. O personagem influenciava o homem e vice-versa. Uma das regras do jogo é que o clown branco tem de ser malvado. Ele dá bofetadas.
O augusto: - Tenho sede.
O clown branco: - Tem dinheiro?
O augusto: - Não.
O clown branco: - Então não tem sede.
Outra tendência do clown branco é explorar o augusto, não apenas como objeto de burla, mas como serviçal. Neste ponto, é característico este início: - Não tens que fazer nada, eu faço tudo. – E o clown branco manda o augusto pegar as cadeiras, pondo-lhe a fela sob o traseiro.
O clown branco é um burguês, que de entrada procura surpreender com sua aparência de rico, poderoso, maravilhoso. O rosto é branco, espectral, franze as sobrancelhas, a boca é assinalada por um só traço, duro, antipático, frio, desigual. Os clowns brancos sempre competiram para ficar com o traje mais luxuoso na luta dos figurinos. Célebre foi Theodore, que possuía uma roupa para cada dia do ano.
O augusto, pelo contrário, faz um tipo único que não muda nem pode mudar de roupa. É o mendigo, o menino, o esfarrapado...
A família burguesa é uma junta de clowns brancos, em que a criança se vê relegada à condição de augusto. A mãe diz: Não faças isso, não faças aquilo... Quando se convidam os vizinhos e se pede à criança que diga uma poesia – Mostra a esses senhores como... – é uma típica situação de circo.
Ser augusto é bom para a saúde
O clown branco assusta as crianças por representar o dever ou, empregando uma palavra na moda, a repressão.
A criança se identifica de saída com o augusto, na medida em que esse se parece com um patinho feio ou um cachorro e é maltratado, e por isso quebra os pratos, se retorce no chão, se atira baldes d'água no rosto. É o que a criança gostaria de fazer e os clowns brancos, os adultos, a mãe, a tia, impedem que faça.
No circo, através do augusto, a criança pode imaginar que faz tudo o que está proibido, se vestir de mulher, armar surpresas, gritas, dizer em voz alta o que pensa.
Aqui ninguém te repreende. Pelo contrário, te aplaudem.
(...)
Minha cidadezinha se transforma num toldo
A chegada do circo durante a noite, na primeira vez que o vi, ainda criança, teve o cunho de uma aparição. Um mundo novo, não precedido por nada. Na noite anterior não existia e, na manhã seguinte, ali estava, diante da minha casa.
De saída, pensei se tratar de um barco desproporcional. Logo a invasão, pois foi isso, uma invasão, estava ligada com algo de marinho, uma pequena tribo pirata.
Então, além do medo, o fascínio pelo clown, surgido desse clima marinho, foi definitivo.
Ao clown principal, Pierino, vi na pequena fonte, no dia seguinte à estréia. Poder tocá-lo, ser ele!
Totó, seu irmão, era um clown branco pobre. Trabalhava com uma camisa, uma gravata e umas calças de fustão.
Fazer rir me pareceu algo extraordinário, uma sorte, um privilégio.
No espetáculo de domingo à tarde, sem o toldo, perto da cadeia, os presidiários gritavam atrás das grades. Totó se dirigiu duas vezes a eles. Como um clown branco, fazia outros augustos infelizes.
Daquele momento em diante, minha cidade se transformou insensivelmente num grande toldo. Sob esse estavam os augustos, junto com o prefeito e o chefe fascista local vestidos de clowns brancos.
A insatisfação que os clowns brancos traziam, também se podia achar em figuras dementes da cidade, sobretudo os augustos, mais que os clowns brancos. Essas figuras eram lembradas em casa como bichos-papões. "Se não comes o espinafre, vais ficar como o Giudizio" – dizia minha mãe.
Giudizio era justamente um augusto de circo. Um capote militar cinco ou seis vezes maior que o corpo, sapatos de borracha branca até no inverno, uma manta de cavalo nos ombros. Mas possuía sua dignidade, como o mais esfarrapado dos palhaços. Fitava um Isotta Fraschini resplendente e, com uma bagana nos lábios presa por um alfinete, afirmava: "Nem de presente, ficaria com ele."
Mas o clown branco, com seu encanto lunar, a elegância noturna, espectral, lembrava a fria autoridade de algumas monjas diretoras de asilos; ou a certos fascistas pretenciosos, com as brilhantes sedas negras, os alamares dourados, o rebenque (como a pazinha do clown), os capotões, o fez e os adornos militares, homens ainda jovens com os rostos pálidos dos capangas, dos notívagos.
(...)
O jogo do clown branco e do augusto
O mundo, não só minha cidade, está povoado de clowns.
Quando estive em Paris para este filme, imaginei uma seqüência, que depois não rodei, em que, andando de táxi, de tanto falar nos clowns, podia-se vê-los na rua. Velhas ridículas com chapéus absurdos, mulheres com sacolas de plástico na cabeça para se proteger da chuva, chapéus e casacos que encolheram, homens de negócios com pastas típicas e um bispo, de aspeto embalsamado, sentado num auto junto ao nosso.
Se me imagino um clown, creio que sou um augusto. Mas também um clown branco ou, talvez, o diretor do circo. O médico de loucos que, por sua vez, enlouqueceu.
Continuemos a prova. Gadda era um belo augusto. Mas Piovene é um clown branco. Moravia, um augusto que desejaria ser branco. Melhor, é um Monsier Loyale, o diretor do circo, procurando conciliar as duas tendências e se manter num terreno objetivo, imparcial. Pasolini é um clown branco do tipo engraçado e sabichão. Antonioni é um augusto desses silenciosos, murchos, tristes. Parise pode ser tudo, um augusto mendigo, sempre meio bêbado, e também um clown branco impertinente, acerado, misógino, dos que esbofeteiam o augusto sem mesmo lhe dar uma explicação.
Picasso? Um augusto triunfal, presunçoso, sem complexos, que sabe fazer tudo e no fim é quem vence o clown branco. Einstein, um augusto sonhador, encantado, que não fala, mas no último instante tira, cândido, do bolso a solução do enigma proposto pelo atilado clown branco. Visconti, um clown branco de grande autoridade, cujo faustoso traje impressiona. Hitler, um clown branco. Mussolini, um augusto. Pacelli, um clown branco. Roncalli, um augusto. Freud, um clown branco. Jung, um augusto.
O jogo é tão certo que, se te vês por acaso ante um clown branco, tendes a ser um augusto, e vice-versa.
O chefe de produção da minha fita era um clown branco. Assim, os outros no convertíamos em augustos. Apenas a aparição de um clown branco mais ameaçador, o fascista, nos transformava também em clowns brancos, desde o momento em que lhe respondíamos, disciplinados, com a saudação romana.
Apenas a destrambelhada aparição de Giovannone, o augusto que assustava as camponesas lhes mostrando o membro como uma lebre morta, surpreso de conviver com esse inquilino que aceitava, nos mudava em clowns brancos quando lhe dizíamos: "Mas o que estás fazendo, Giovannone?"
Até na missa essa relação tinha lugar. Acontecia entre o sacerdote e alguns sacristães, que andavam entre os bancos da igreja interrrompendo o rito, com olhos apagados e alcoolizados, a pedir esmola.
Este texto é um excerto do comentário que fez Fellini a seu filme I Clowns, feito para a televisão em 1970. In ""Fellini por Fellini", L&PM Editores Ltda., Porto Alegre, 1974, págs. 1-7. Tradução de Paulo Hecker Filho.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Em Busca de Seu Próprio Clown - Jacques Lecoq
Na tradição do circo, o clown começava sendo um acrobata, malabarista ou trapezista, e depois, com o passar do tempo, não podendo mais realizar os números no mesmo nível de qualidade, ensinava-os a um jovem e tornava-se um clown.
Desde os anos sessenta manifesta-se um interesse pelo clown. Mas o clown não está mais ligado ao circo: trocou o picadeiro pela cena e pela rua. Muitos jovens desejam ser clowns; é uma profissão de fé, uma tomada de posição perante a sociedade: ser esse personagem à parte e reconhecido por todos, pelo qual sentimos um vivo interesse, naquilo que ele não sabe fazer, lá onde ele é fraco. Mostrar suas fraquezas (as pernas finas, o peito largo, os braços pequenos) e enfatizá-las usando roupas diferentes daquelas que usualmente as ocultam, é aceitar-se e mostrar-se tal como se é.
Numerosos jovens em todos os países andam pelas ruas com três bolinhas, uma cambalhota, uma parede invisível, querendo ser vistos. O fenômeno ultrapassa a simples representação e seu espetáculo. Esse clown "psicológico", que pode desenvolver uma pedagogia dramática, necessária à liberdade do comediante, não é forçosamente um clown de espetáculo e permanece no mais das vezes sendo um modo de expressão privado. O pequeno nariz vermelho não basta para fazer um clown profissional e a representação não deve ser uma exibição consoladora.
O clown exige também uma proeza, freqüentemente ao inverso da lógica; ele põe em desordem uma certa ordem e permite assim denunciar a ordem vigente: deixa cair o chapéu, vai apanhá-lo mas, desajeitadamente, dá-lhe um pontapé e, sem querer, pisa na bengala que lhe joga de volta o chapéu nas mãos. O clown erra onde não esperamos e acerta onde não esperamos. Se tentar um salto perigoso, cai, mas o executa quando lhe dão uma bofetada. Assim o clown Grock, escondido atrás de um biombo, conseguia junglar com três bolas, só elas visíveis ao público, o que não conseguia fazer perante o público.
O clown toma tudo ao pé da letra, em seu sentido imediato: quando a noite cai (bum!) ele a procura no chão e nós rimos de seu lado idiota e ingênuo. Se alguém lhe manda tomar um ar ele quer segurá-lo com a mão. Todos pregam-lhe peças. Alguém o manda abaixar-se e olhar para os pés: ele se abaixa e leva um pontapé nos fundilhos; achando a piada "muito boa", vai passá-la a um terceiro personagem; este lhe pede para mostrar como fazê-lo e o clown recebe um novo pontapé deste novo personagem, que já conhecia a blague.
O pequeno nariz vermelho, "a menor máscara do mundo", dando ao nariz uma forma redonda, banha os olhos de ingenuidade e aumenta o rosto, desarmando-o de qualquer defesa. Ele não causa medo, o que faz com que seja amado por todas as crianças.
A pantomima, outrora, desceu ao picadeiro do circo e deu ao clown o rosto branco de Pierrot, que torna-se então o clown branco. O clown, hoje, é sobretudo o augusto e, portanto, todos os cômicos do picadeiro.
Beckett deu uma nova dimensão ao clown, fazendo com que ele descobrisse os altos sopros da existência. O herói trágico tornou-se inabordável, e o clown o substitui, "Esperando Godot"...
Clowns de teatro e clowns de circo misturam-se no Circo Alfred, na Tchecoslováquia, com Ctibor Turba e Boleslav Polivka. Pierre Byland e Philippe Gaulier, clowns de teatro absurdo, fazem um espetáculo, Os Pratos. Cada país encontra seus clowns, o fenômeno é internacional, e não é o circo que os faz nascer. Os jovens comediantes se reconhecem nesse mundo clownesco que desenvolvem longe da imagem típica do clown de circo.
Essa busca de seu próprio clown reside na liberdade de poder ser o que se é e de fazer os outros rirem disso, de aceitar a sua verdade. Existe em nós uma criança que cresceu e que a sociedade não permite aparecer; a cena a permitirá melhor do que a vida.
Esse caminho é puramente pedagógico e essa experiência serve ao comediante para além mesmo da representação clownesca. Não basta, para um clown de teatro, apresentar-se ao público fracassando naquilo que procura realizar e com uma roupa típica e nariz vermelho. O clown profissional deve saber realizar seus fracassos com talento e trabalho. Os clowns de teatro fundamentam-se mais sobre o talento do comediante que sobre o do acrobata; sem o nariz vermelho, eles animam um mundo geralmente absurdo e trágico. Em companhias, montam peças curtas criando seus personagens a partir de si mesmos, caricaturando a si mesmos.
In "Le Théâtre du geste", org. de Jacques Lecoq, Ed. Bordas, Paris, 1987, pág. 117. Tradução de Roberto Mallet.
Desde os anos sessenta manifesta-se um interesse pelo clown. Mas o clown não está mais ligado ao circo: trocou o picadeiro pela cena e pela rua. Muitos jovens desejam ser clowns; é uma profissão de fé, uma tomada de posição perante a sociedade: ser esse personagem à parte e reconhecido por todos, pelo qual sentimos um vivo interesse, naquilo que ele não sabe fazer, lá onde ele é fraco. Mostrar suas fraquezas (as pernas finas, o peito largo, os braços pequenos) e enfatizá-las usando roupas diferentes daquelas que usualmente as ocultam, é aceitar-se e mostrar-se tal como se é.
Numerosos jovens em todos os países andam pelas ruas com três bolinhas, uma cambalhota, uma parede invisível, querendo ser vistos. O fenômeno ultrapassa a simples representação e seu espetáculo. Esse clown "psicológico", que pode desenvolver uma pedagogia dramática, necessária à liberdade do comediante, não é forçosamente um clown de espetáculo e permanece no mais das vezes sendo um modo de expressão privado. O pequeno nariz vermelho não basta para fazer um clown profissional e a representação não deve ser uma exibição consoladora.
O clown exige também uma proeza, freqüentemente ao inverso da lógica; ele põe em desordem uma certa ordem e permite assim denunciar a ordem vigente: deixa cair o chapéu, vai apanhá-lo mas, desajeitadamente, dá-lhe um pontapé e, sem querer, pisa na bengala que lhe joga de volta o chapéu nas mãos. O clown erra onde não esperamos e acerta onde não esperamos. Se tentar um salto perigoso, cai, mas o executa quando lhe dão uma bofetada. Assim o clown Grock, escondido atrás de um biombo, conseguia junglar com três bolas, só elas visíveis ao público, o que não conseguia fazer perante o público.
O clown toma tudo ao pé da letra, em seu sentido imediato: quando a noite cai (bum!) ele a procura no chão e nós rimos de seu lado idiota e ingênuo. Se alguém lhe manda tomar um ar ele quer segurá-lo com a mão. Todos pregam-lhe peças. Alguém o manda abaixar-se e olhar para os pés: ele se abaixa e leva um pontapé nos fundilhos; achando a piada "muito boa", vai passá-la a um terceiro personagem; este lhe pede para mostrar como fazê-lo e o clown recebe um novo pontapé deste novo personagem, que já conhecia a blague.
O pequeno nariz vermelho, "a menor máscara do mundo", dando ao nariz uma forma redonda, banha os olhos de ingenuidade e aumenta o rosto, desarmando-o de qualquer defesa. Ele não causa medo, o que faz com que seja amado por todas as crianças.
A pantomima, outrora, desceu ao picadeiro do circo e deu ao clown o rosto branco de Pierrot, que torna-se então o clown branco. O clown, hoje, é sobretudo o augusto e, portanto, todos os cômicos do picadeiro.
Beckett deu uma nova dimensão ao clown, fazendo com que ele descobrisse os altos sopros da existência. O herói trágico tornou-se inabordável, e o clown o substitui, "Esperando Godot"...
Clowns de teatro e clowns de circo misturam-se no Circo Alfred, na Tchecoslováquia, com Ctibor Turba e Boleslav Polivka. Pierre Byland e Philippe Gaulier, clowns de teatro absurdo, fazem um espetáculo, Os Pratos. Cada país encontra seus clowns, o fenômeno é internacional, e não é o circo que os faz nascer. Os jovens comediantes se reconhecem nesse mundo clownesco que desenvolvem longe da imagem típica do clown de circo.
Essa busca de seu próprio clown reside na liberdade de poder ser o que se é e de fazer os outros rirem disso, de aceitar a sua verdade. Existe em nós uma criança que cresceu e que a sociedade não permite aparecer; a cena a permitirá melhor do que a vida.
Esse caminho é puramente pedagógico e essa experiência serve ao comediante para além mesmo da representação clownesca. Não basta, para um clown de teatro, apresentar-se ao público fracassando naquilo que procura realizar e com uma roupa típica e nariz vermelho. O clown profissional deve saber realizar seus fracassos com talento e trabalho. Os clowns de teatro fundamentam-se mais sobre o talento do comediante que sobre o do acrobata; sem o nariz vermelho, eles animam um mundo geralmente absurdo e trágico. Em companhias, montam peças curtas criando seus personagens a partir de si mesmos, caricaturando a si mesmos.
In "Le Théâtre du geste", org. de Jacques Lecoq, Ed. Bordas, Paris, 1987, pág. 117. Tradução de Roberto Mallet.
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
Depois, tudo estará perfeito;
Cecília Meireles
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Cecília Meireles
terça-feira, 6 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Clowns na Casa Laranja
domingo, 4 de julho de 2010
100 minutos em tres onibus errados
Ela adora andar de onibus
Ela odeia metrô
Ela gosta de andar a pé, mas quase sempre está atrasada
E é obrigada a mergulhar na terra, ficar sem ar para chegar a qualquer lugar.
Um horror.
Aquela noite quando guardou o pequeno nariz vermelho na sua pequena bolsa de pano azul, foi para o ponto de onibus, pegou um onibus de nome certo e numero errado, desceu no meio do caminho inverso, ansiosa pegou o segundo onibus, também errado. Nervosa pegou o terceiro, errado.
O trajeto a pé: 25 minutos em passos apertados e longos ou 40 minutos lentamente, flanando pela cidade.
Mas naquela noite fria, com tres onibus errados e um nariz vermelho despido de frio, demorou-se inacreditáveis 100 minutos.
100 Minutos um filme curto de Fellini
100 minutos uma peça boa de Teatro
100 Minutos um namoro romantico no parque
100 minuto s e tres onibus, sem o natiz de borracha, mas augusta profundamente.
sábado, 3 de julho de 2010
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Japonês tenta quebrar recorde no arremesso de avião de papel
Engenheiro quer romper a barreira de 30 segundos de permanência do avião no ar; recorde é de 27,9s
28 de dezembro de 2009 | 17h 04
No cenário de competições de arremesso de aviões de papel, um voo de 20 segundos de duração é excepcional e de 25 ou mais é considerado de classe mundial. Mas o de 30 segundos é ainda um sonho. Apenas um homem, o engenheiro japonês Takuo Toda, ficou próximo de romper a barreira de 30 segundos. Neste último domingo, 27, Toda estabeleceu um novo recorde mundial de arremesso manual de um avião feito apenas com papel. Em uma das dez tentativas, Toda viu seu avião de papel permanecer durante 27,9 segundos no ar. "Eu senti muita pressão", disse Toda após as tentativas de quebra de recorde no hangar da Japan Airlines no Aeroporto Haneda, próximo de Tóquio. "Tudo é um fator. As condições do ar, a temperatura e até a plateia." Toda é o presidente da Associação Japonesa de Aviões de Origami e desenvolveu dois modelos de avião de papel. Em um deles, utilizou uma fita adesiva para modificar a aerodinâmica do planador; o outro, sem o incremento, utilizou para conseguiu um voo de 26,1 segundos de duração, reconhecido pelo livro dos recordes Guinness. "Eu vou superar a marca de 30 segundos. É uma questão de tempo", confia Toda, que revelou o segredo da sua técnica: arremessador em direção vertical, para o avião ganhar altitude e descer lentamente em movimentos circulares até atingir o chão. "Trata-se realmente de um esporte. A técnica de arremesso é bastante delicada", completou o japonês. Outro desafio que Toda estabeleceu é de arremessador um avião de papel do espaço. Com apoio da agência espacial japonesa, ele e uma equipe de cientistas estão desenvolvendo um avião que suportaria o intenso calor da reentrada na atmosfera. O maior problema do ambicioso projeto é rastrear o pequeno avião de papel após seu lançamento da Estação Internacional Espacial.
fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,japones-tenta-quebrar-recorde-no-arremesso-de-aviao-de-papel,487877,0.htm
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